Resenha: Suzy e as águas-vivas


Número de Páginas: 223
Editora: Verus
Idioma: Português
Autor: Ali Benjamin
Tradução: Cecília Camargo Bartalotti


Livro recebido em parceria com o Grupo Editorial Record



Suzy Swanson, uma estudante do sétimo ano, passou por um acontecimento que é extremamente difícil até para adultos enfrentarem: a morte de sua ex-melhor amiga de infância, Franny Jackson. Poucos dias após o ocorrido, chamado por Suzy de a Pior Coisa, ela acaba se fechando e adotando o modo não-falar, motivada também pela culpa que sentia por coisas que tinha falado e feito antes da morte de Franny.


"O que não é recusar-se a falar, como todo mundo acha que é. É só decidir não encher o mundo de palavras se não for necessário. É o oposto da fala-contínua, que é o que eu costumava fazer, e é melhor do que o falar-à-toa, que é o que as pessoas queriam que eu fizesse."

Elas se conheceram ainda bem novinhas em uma aula de natação e por saber como Franny era uma excelente nadadora, Suzy se recusa a acreditar que ela tenha morrido afogada. Em uma visita com a escola a um aquário, ela descobre sobre a existência de uma água-viva minúscula e quase imperceptível, mas praticamente letal, a irukandji. Convencida de ter descoberto a verdadeira causa da morte de Franny, Suzy começa a estudar mais sobre as águas-vivas e buscar meios de encontrar as respostas que precisa.
Achei esse livro muito sensível e amorzinho e fiquei apaixonada pela narrativa da autora, que conquista pela sua simplicidade, mas que mesmo assim consegue ser profunda e tocante. Mesmo sendo um livro mais infanto-juvenil e com uma protagonista pré-adolescente, acho que não tem idade para se sentir envolvido com a história de Suzy.

Sempre gostei muito de biologia, então adorei todas as informações sobre as águas-vivas que o livro trouxe. Gosto muito de histórias com esse toque "científico", em que aprendemos durante a leitura, como em Jurassic Park. Também achei muito legal que a história foi divida e organizada como se fossem partes de um relatório.

"Os mares estão se aquecendo, o que é terrível para quase todo mundo. Também estão ficando cheios de produtos químicos. Enormes áreas dos oceanos hoje não têm oxigênio suficiente. Mas as águas-vivas adoram um oceano quente, os produtos químicos não as prejudicam nem um pouco, e elas carregam todo o oxigênio de que precisam dentro de seu próprio corpo aquoso."
Eu me apeguei muito à Suzy e me vi nela na época de escola, em relação a se sentir diferente e deslocada pela pessoa que você é pelos gostos que tem (na verdade me sinto um pouco até hoje). Aos poucos vamos descobrindo porque ela e Franny deixaram de ser amigas e acho que essa foi a parte mais triste e com a carga emocional mais pesada pra mim. Principalmente por sabermos que não haveria uma maneira de consertar as coisas. 

Uma coisa que gostei bastante é que Suzy tem um irmão gay que mora com o namorado e isso é tratado com bastante naturalidade no livro. Tinha comentado faz pouco tempo aqui que sinto falta de livros que abordem a temática LGBT sem fazer dela a grande problemática do livro. Os dois estão na história cumprindo seu papel de família da Suzy e toda interação deles com a menina ou com a mãe acontece da mesma forma que seria com um casal heterossexual, como realmente deveria ser sempre. 

Mesmo que o livro tenha um tom triste, ele não te deixa pra baixo durante a leitura e dá até um calorzinho no coração no final. Ah, e só mais uma consideração: acho que se as pessoas adotassem o não-falar de vez em quando, o mundo seria um lugar bem melhor.

"Se as pessoas ficassem em silêncio, poderiam ouvir melhor o barulho de sua própria vida. Se as pessoas ficassem em silêncio, o que elas falassem, quando escolhessem falar, se tornaria mais importante. Se as pessoas ficassem em silêncio, poderiam ler os sinais umas das outras, do modo como criaturas submarinas piscam luzes entre si, ou fazer sua pela assumir diferentes cores."

Achei a arte e as cores da capa muito bonitas e a edição, apesar de simples, está caprichada e com detalhes fofinhos.