Resenha: O Sorriso da Hiena


Número de Páginas: 304
Editora: Publicação Independente
Idioma: Português
Autor: Gustavo Ávila 

Skoob/Goodreads

O Sorriso da Hiena é focado em três personagens: David, William e Artur
David assistiu ao assassinato brutal de seus pais quando tinha apenas 8 anos. Já adulto, ele quer saber qual a real influência do ocorrido no que ele acha que se tornou: um monstro. Para isso, pretende realizar um estudo com 5 crianças, fazendo-as assistir ao assassinato dos pais exatamente da mesma forma que ele.

Porém, ele precisa da ajuda de alguém que possa analisar o comportamento das crianças após a tragédia. É aí que entra William, um psicólogo especializado em comportamento infantil que publicara uma tese de doutorado bastante elogiada sobre as possíveis consequências de acontecimentos dolorosos na vida de crianças. David oferece a ele a possibilidade de tornar seu trabalho mais significativo e sair do plano da teoria e das hipóteses, estudando de perto casos reais. 

E tentando solucionar os estranhos assassinatos e impedir que outros aconteçam, está Artur, um brilhante detetive com Síndrome de Asperger.

Eu comprei esse ebook na época do lançamento porque só ouvi elogios a ele. Mas minha vontade de ler determinado livro é uma coisa que vem e vai embora na velocidade da luz. Então ele ficou quietinho lá no meu kindle até o final do mês passado. Tava morrendo de vontade de ler um thriller muito bom e lembrei dele. Pena que pra mim não funcionou :(

Comecei a história bem empolgada, logo de cara já tem uma cena chocante e a premissa tinha me parecido muito interessante. Os problemas, para mim, começaram quando David faz a proposta para William, através da mensagem de e-mail que eles trocavam. Achei a reação do psicólogo totalmente não condizente com a sua personalidade e os valores que dizia acreditar. Ele atendia diversas crianças de graça em seu consultório por se importar com elas e duvidava se seria ético acompanhar a vida de uma pessoa durante anos por motivos de estudo. E ao ficar sabendo sobre os assassinatos que David estava cometendo e o experimento, ele simplesmente responde com um "O que o faz pensar que eu não vou mostrar isso à polícia?". 

Eu acho que faltou um pouquinho de "OMG 😱😱😱" envolvido. Alguma indignação, um choque por tudo que as crianças passaram e as outras passariam, as pessoas inocentes que foram assassinadas, um conflito interno sabe? Ele até pensa uma ou duas coisas a respeito do assunto depois, mas achei muito pouco perante a gravidade da situação e tudo que ela representava. 
Entendam, meu problema não foi com a atitude que ele toma depois da conversa, não tô julgando se ela é certa ou errada, ética ou não, porque isso faz parte da história. Mas o que aconteceu ali naquela troca de emails começou a me deixar com um pouco de pé atrás.

Senti falta também de conhecer um pouco mais desse monstro que David dizia ser. Claro que eu acho que os assassinatos são monstruosos, mas e antes deles? O que o fez concluir que era assim? Achei a explicação que ele deu pro William muito superficial e só lá pelo final do livro que temos uns poucos relatos sobre sua juventude, mas já que é isso que dá a base para todo o estudo, achei que poderia ter sido melhor desenvolvida e explorada.

A equipe policial pareceu saída de uma novela da Globo pra mim. Policiais entrando sozinhos nas casas de potenciais assassinos, sem informar a ninguém da equipe, acidentes suspeitos que não são investigados...vários erros que somados contribuíram para que ficasse um pouco difícil acreditar na história. Tudo conspirava absurdamente a favor do assassino. Inclusive era super fácil para ele cometer os assassinatos e carregar corpos por aí sem nunca ser visto ou deixar uma evidência sequer. 

Dos personagens, eu gostei bastante do Artur, mas não sei opinar o quanto seu retrato foi fiel a uma pessoa com Síndrome de Asperger. Em algumas vezes me pareceu que seu comportamento ficou um pouco caricato e repetitivo. Mas mesmo assim foi de longe o personagem por quem eu mais me interessei. Gostaria que a história tivesse focado um pouco mais no seu trabalho investigativo. E é provável que caso o autor escreva outros livros protagonizados pelo detetive, eu dê uma chance à leitura.

Durante a leitura comecei a repensar o que eu tinha achado interessante na premissa. O estudo começou a me parecer meio sem propósito. Se eles de fato descobrissem que crianças que enfrentam uma tragédia/violência intensa se tornam monstros/assassinos quando adultos, o que fariam com essa informação? Não consegui pensar em nada que pudesse ter a aplicação prática prometida na proposta do estudo. E o final foi bastante inconclusivo em relação a isso e reforçou as questões que eu levantei a respeito de tudo que estava sendo feito. E por falar em final, se o autor tivesse seguido para um lado que ele "ameaçou" seguir, para mim teria ficado bem mais interessante.

Fiquei um tempo pensando se deveria ou não escrever essa resenha. Não que eu ache que tenha o poder de influenciar na escolha de leitura de alguém...mas é que acho legal ver autores nacionais se aventurando nos romances policiais e lançando suas obras mesmo que de forma independente e eu realmente queria ter gostado desse livro. Mas é aquela coisa né, gosto é gosto. E há dezenas de resenhas positivas por aí, então só lendo mesmo para saber :)

"Pensou que o velho também deveria ter seu lado sombrio. Todo mundo tem. Basta a vida acertar o lugar certo para despertar o pior em qualquer pessoa. "