Resenha: Doadores de Sono


Número de Páginas: 168
Autora: Karen Russell
Editora:Record
Idioma: Português
Tradução: Cláudia Costa Guimarães


Livro recebido em parceria com o Grupo Editorial Record
Skoob/Goodreads




Se dormir mal ou passar uma noite em claro já nos deixa esgotados no dia seguinte, imaginem não dormir nunca mais. É esse o destino de milhares de americanos em Doadores de Sono. Uma epidemia de insônia de origem desconhecida atingiu a população fazendo com que as pessoas atingidas percam gradativamente a capacidade de dormir, até chegarem em um estágio que são imunes até mesmo a sedativos e anestesias. 

"Desde então, neurocientistas concluíram que, para uma parcela significativa da população do país, a função sinalizadora do neuropeptídio orexina se deteriorou. A deficiência foi associada à narcolepsia em seres humanos, mas esta disfunção causa o efeito oposto: um estado insustentável de hiperexcitação. O sono se torna impossível. Gente como Dori permanece consciente durante meses ou mesmo anos, refém da química cerebral, presa em um estado de vigília que acaba por matá-la."


Dori era a irmã mais velha de Trish e morreu devido à insônia permanente. Na época em que Dori estava doente, a Corpo do Sono ainda não existia. Essa é uma organização sem fins lucrativos criada com o intuito de recrutar doadores de sono para os insones. Trish agora trabalha como uma recrutadora da Corpo do Sono e tem muito sucesso em sua tarefa ao contar a história de sua irmã e de como ela poderia ter sido salva se tivesse dormido pelo menos 1h em seus dias finais. 
Apesar de falar para si mesma que está salvando vidas, Trish não se sente totalmente confortável usando o triste relato do final da vida da sua irmã para conseguir doadores, deixando-os praticamente sem opção de recusar. Além disso, ela foi a responsável por encontrar a Bebê A, considerada doadora universal e com o sono mais puro que já foi visto. Por conta dessas características, seus supervisores exploram ao máximo a doação de sono da bebê e diante da relutância de seu pai em continuar com esses procedimentos, os diferentes valores em que Trish acredita parecem entrar cada vez mais em conflito. Tudo se complica ainda mais quando ela descobre um segredo que envolve seus misteriosos supervisores, os irmãos Storch, ex-milionários que doaram tudo para a organização. 
Eu fiquei muito empolgada com a sinopse do livro porque estava com bastante vontade de ler algo de ficção científica e achei a premissa bem diferente de qualquer outra coisa que eu tenha lido. Porém, demorei um tempo para chegar a uma conclusão do que achei da leitura. A temática de fato me agradou bastante. O toque científico e tecnológico da história é bem interessante e os equipamentos e a forma como o sono é doado são descritos de uma maneira que te faz quase acreditar que seriam possíveis. 

Não cheguei exatamente a gostar da Trish, mas achei que ela foi uma boa personagem na história. Gostei dos dilemas enfrentados por ela, a dúvida no que e em quem acreditar e se qualquer coisa valia a pena por um "bem maior", até mesmo explorar e praticamente vender sua irmã falecida. Achei que ela foi construída de uma maneira bem humana, bem real. Senti falta, porém, de um maior desenvolvimento dos outros personagens. Só temos contato com eles quando estão interagindo com a Trish e por isso acabamos conhecendo-os muito pouco, que é basicamente o que ela vê, pensa e sabe sobre cada um. 

Apesar de estar extremamente interessada na história e naquele mundo criado pela autora, eu não consegui me envolver com a forma com que ela foi contada. Quando terminei o livro, senti mais como se eu tivesse lido um conto longo e não um romance. Achei que havia muito mais para ser explorado e desenvolvido e vários pontos soltos para serem esclarecidos. Mas mesmo assim foi um livro que não me arrependo de ter lido e uma história que gostei de ter conhecido, mesmo com os seus poréns. Como ele é bem curtinho, recomendo a leitura para quem gostar da sinopse :) 
"Acho que o grande talento do nosso país é gerar desejos que jamais ocorreriam de forma espontânea num corpo como o meu, tornando-os tão dolorosamente reais que o dinheiro se transforma em ficção, um meio imaginário para algum fim concreto. Quarenta e cinco dólares pelo lote da lua? Pode colocar no cartão. Que pechincha. "