Resenha: Noturnos


Autor: John Connolly
Número de Páginas: 294
Editora: Bertrand Brasil
Idioma: Português

Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Record
Skoob/Goodreads




Sinopse: Crianças acreditam que monstros são reais. Adultos tentam convencê-las do contrário — ou de que, no final, eles sempre serão derrotados. Nesta que é sua primeira coletânea de contos, John Connolly escreve sobre os mundos infantil e adulto em confronto em dezesseis histórias absolutamente assombrosas, com ecos de alguns dos mestres do horror — M.R. James, Ray Bradbury, Stephen King —, mas sem abrir mão da voz única e inconfundível que o consagrou em O Livro das Coisas Perdidas. Amores perdidos, crianças desaparecidas, demônios predatórios e fantasmas vingativos são apenas alguns dos ingredientes que compõem esta imperdível antologia.

Noturnos é uma coletânea de dezesseis contos do autor irlandês John Connolly. A descrição na orelha do livro nos promete histórias assombrosas e a contracapa nos alerta para não lê-las à noite, pois poderíamos nos arrepender. E foi exatamente o que eu fiz, porque eu rio na cara do perigo HA HA HA. Mentira, sou muito medrosa, mas quis fazer um teste e caso desse medo ia ler só na luz do dia abraçada a um bichinho de pelúcia.


Com isso, posso dizer com segurança que o terror contido nos contos não é daquele tipo O Exorcista, que te deixa sem conseguir dormir pra sempre depois (pelo menos aconteceria comigo caso eu assistisse); ele vai mais para um lado psicológico, te deixando tenso do começo ao fim e louco para saber como será o final na maioria das histórias, mesmo nas mais curtinhas. 

O tamanho é algo que varia muito nos contos, sendo apenas dois deles bem longos: A balada do caubói canceroso e As bruxas de Underbury. A balada do caubói canceroso abre o livro e ele fez com que o autor me ganhasse logo de cara. A sinopse e a capa me deram a impressão de que o livro era voltado para o público mais jovem, e não que isso fosse ruim de maneira alguma, mas acabei me surpreendendo. Achei a linguagem e o conteúdo desse primeiro conto, e de muitos outros, bem mais adultos do que eu imaginava. 

Até hoje li poucos contos e eles até então não tinham conseguido me conquistar muito. Tinha problemas para me envolver com as histórias e os personagens por não passar muito tempo com eles. Mas isso não aconteceu dessa vez. Claro que gostei tanto de alguns contos mais curtos que não acharia nem um pouco ruim se houvesse um desenvolvimento maior de suas histórias, mas mesmo assim fiquei satisfeita ao terminá-los e achei que a quantidade de páginas foi suficiente.
A descrição do autor é bastante visual e isso contribui bastante para a imersão nas histórias. 

"O desejo embargou a voz da criatura. No local onde deveriam estar os olhos, voaram duas borboletas negras, como minúsculos parentes enlutados em um velório. Depois, a boca se arreganhou, e dedos nodosos se estenderam em minha direção. O Rei dos Elfos deu um passo  à frente e pude vê-lo em toda a sua horripilante glória. Trazia uma capa feita de pele humana pendurada nos ombros, que se estendia quase até o chão. Em vez de arminho, as franjas eram ornadas com escalpos: cabelos louros, pretos e ruivos, todos entrelaçados, como as cores das árvores no outono."

Esse trecho foi retirado de O Rei dos Elfos, um dos meus contos preferidos. Gostei muito também de A nova filha, que apesar de usar uma fórmula já conhecida em histórias de terror, onde uma família se muda para determinada casa misteriosa que estava com um preço de venda abaixo do mercado e coisas estranhas começam a acontecer aos moradores, não deixa de ser bem interessante. 

O livro traz histórias para os mais diversos gostos, com todo tipo de criaturas, como bruxas, palhaços do mal, elfos, lobisomens e vampiros. A leitura é bem fluída e só não terminei mais rápido porque procurei ir lendo um conto por dia para que durassem mais. Não gostei muito só de uns dois contos, mas não cheguei a desgostar deles também. 

É um livro que eu recomendo muito! Principalmente se você é como eu e gosta de um terror mais levinho hehe. 
A edição está bem caprichada e eu gostei TANTO da capa que nem sei dizer (e da contracapa, da lombada, das orelhas...). Eu adoro roxo e achei que a arte combinou muito com o livro. Os detalhes em preto são em alto-relevo e adorei as letrinhas do título "amarradas". As páginas são amarelas e antes do início de cada conto (com exceção dos dois últimos), há uma ilustração. 
"Lenda é uma coisa, realidade é outra. Aquela, nós contamos; esta escondemos. Criamos monstros na esperança de que as lições contidas nas histórias nos sirvam de guia quando nos deparamos com o que há de mais terrível na vida. Inventamos nomes para nossos medos e rezamos para não encontrar nada pior do que aquilo que nós mesmos criamos."