Resenha: No Escuro

Catherine aproveitou a vida de solteira por tempo suficiente para reconhecer um excelente partido quando o encontra: lindo, carismático, espontâneo... Lee parece bom demais para ser verdade. Suas amigas concordam plenamente e, uma por uma, todas se deixam conquistar por ele.
Com o tempo, porém, o homem louro de olhos azuis, que parece o sonho de qualquer mulher, revela-se extremamente controlador e faz com que Catherine se sinta isolada. Amedrontada pelo jeito cada vez mais estranho de Lee, Catherine tenta terminar o relacionamento, mas, ao pedir ajuda aos amigos, descobre que ninguém acredita nela. Sentindo-se no escuro, ela planeja meticulosamente como escapar dele.
Quatro anos mais tarde, Lee está na prisão e Catherine, agora Cathy, tenta reconstruir a vida em outra cidade. Apesar de seu corpo estar curado, ela tornou-se uma pessoa bastante diferente. Obsessivo-compulsiva, vive com medo e insegura. Seu novo vizinho, Stuart Richardson, a incentiva a enfrentar seus temores. Com sua ajuda, Cathy começar a acreditar que ainda exista a chance de uma vida normal. Até que um telefonema inesperado muda tudo.
Ousado e poderoso, convincente ao extremo em seu retrato da obsessão, No escuro é um thriller arrebatador.


Número de páginas: 336
Autora: Elizabeth Haynes
Editora: Intrínseca 
Idioma: português 
Gênero: Literatura Estrangeira/Thriller

Esse foi um livro que mexeu comigo de muitas formas e desconstruiu preconceitos que eu tinha em relação a mulheres que estão em um relacionamento abusivo. A história começa no julgamento do então namorado de Catherine, Lee, após agredi-la gravemente. Ele afirma que Catherine provocou a maior parte dos ferimentos e que ele apenas bateu nela porque ela o estava agredindo e ameaçando com uma faca. E que se arrepende muito disso, pois só queria o seu bem e protegê-la, já que a amava e estavam pensando em se casar. Lee é carismático e extremamente convincente e conta com o apoio e o testemunho da melhor amiga de Catherine, Sylvia, que afirma que ela estava mudada e sofrendo de depressão nos últimos tempos, chegando até a se auto flagelar. Cathy está em estado de choque e não consegue contar muito do seu lado da história, o que contribui para aumentar a credibilidade do que é contado por Lee, mas que mesmo assim é preso.

Os capítulos do livro são alternados entre a Cathy do passado, desde um pouco antes do início do relacionamento com Lee e a do presente, que tenta juntar os cacos da sua vida e sobreviver a mais um dia. E elas são tão diferentes que tive dificuldades em enxergá-las como a mesma pessoa. No passado, ela era uma jovem que adorava se divertir e basicamente passava suas noites indo de pub em pub e quase sempre acordava na cama de um desconhecido, após ter ficado bêbada demais para lembrar o que acontecera. Ela não tem família porque seus pais morreram em um acidente de carro quando estava na faculdade por isso seus amigos são sua única família, principalmente Sylvia. 

Em uma dessas noites, Cathy conhece Lee que estava trabalhando como segurança da boate e fica encantada com ele. Após um breve flerte, eles se encontram novamente na academia e ela o convida para ir em sua casa um noite. Ele chega apenas de madrugada, todo sujo e machucado, não querendo contar o que aconteceu, pois diz que faz parte do seu trabalho e é sigiloso. E ela deixe ele entrar e ainda passa a noite com ele! Aí eu já vi um sinal vermelho muito grande que foram seguidos por inúmeros outros, para os quais Cathy sempre tinha uma desculpa/explicação. Ela estava cada vez mais apaixonada e envolvida, por isso passava por cima dos ataques absurdos de ciúmes, das ofensas e da forma bruta com que ela a tratava algumas vezes durante o sexo. Afinal ele a amava e tinha um lado bom, certo? Cathy tem cada vez mais dificuldade de responder a essa pergunta e cada vez mais a resposta positiva não parece satisfatória. 



No futuro, Cathy é uma mulher traumatizada. Ela sobreviveu ao violento ataque de Lee, mas seu psicológico fora afetado de uma maneira que parece irreversível. Ela agora mora sozinha em Londres e evita ter qualquer tipo de relacionamento. Ela desenvolveu um TOC bem grave que atrapalha MUITO sua vida. Para se sentir minimamente segura ela precisa checar cada canto de sua casa inúmeras vezes ao dia, além de passar por outros rituais desgastantes. Cathy está se afundando cada vez mais, mas a mudança de um novo morador, o psicólogo Stuart, para o seu prédio pode significar uma pequena esperança em sua vida. 

Eu fiquei muito brava com a Cathy por não perceber onde ela estava se metendo. Não me conformava que ela sempre arrumava desculpas para o comportamento abusivo de Lee e não se libertava dele. Eu tenho que confessar que sempre "apontei o dedo" para mulheres que apanham do marido/namorado e continuam no relacionamento. Nunca consegui entender o porquê elas não tomam uma atitude e se livram disso. Mas o problema é que não é tão simples como parece. No caso de Cathy, por exemplo, Lee estava exercendo um controle psicológico muito grande sobre ela que fazia até com que ela duvidasse da própria sanidade algumas vezes. Além disso, ela estava completamente sozinha, sem família e com "amigos" que acreditavam mais no seu louco namorado no que ela, além de outros fatos que não posso contar para não dar spoiler. Por isso percebi o quanto é fácil e cômodo julgar as pessoas quando nos encontramos em uma situação tão distante das que elas estão passando e fiquei com vergonha do modo como sempre pensei. 

O segundo ponto que mexeu comigo na história foi o TOC da protagonista. Eu tenho TOC (já comentei algumas vezes por aqui), mas em um nível mais moderado e já fiz tratamento, por isso meus sintomas são bem mais controlados hoje em dia. Mas me senti muito angustiada com tudo que ela fazia, cheguei até a ficar preocupada que algumas coisas que eu fazia fossem voltar se eu ficasse pensando/lendo sobre elas, mas felizmente não aconteceu. Achei que a autora abordou muito bem o tema, todo sofrimento que a Cathy sentia ao fazer seus rituais repetidas vezes era muito palpável. Espero que esse e outros livros contribuam para mudar o preconceito que muitas pessoas tem com o TOC, achando que é coisa de gente maluca ou frescura. Depois que você verifica a porta 10 vezes, você sabe RACIONALMENTE que ela está trancada, você não é idiota. Mas aí a parte não racional começa "Mas e se eu não tiver verificado direito?", "E se eu achei que verifiquei, mas na verdade não verifiquei?"...por mais que pareça impossível, se você não for lá e checar de novo, essa dúvida te consome e você começa a achar que algo muito ruim vai acontecer. 

Essa leitura foi densa e por vezes pesada demais, mas gosto de histórias que me afetam a ponto de refletir e repensar minhas ideias. É um livro que acho que todos deveriam ler. 

Comentários

  1. Nunca li nada nesse estilo e agora já tem dois livros na minha lista: esse que você acabou de indicar e Amor Amargo. Conhece?

    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Bruna!
      Esse eu não conheço não, mas depois vou procurar ver como é :)
      Se você ler esse, depois me fala o que achou!
      Beijos

      Excluir

Postar um comentário

Obrigada por comentar!