Resenha: A Noite dos Mortos-Vivos e A Volta dos Mortos-Vivos



Número de Páginas: 320
Editora: Darkside Books
Idioma: Português
Autor: John Russo
Tradução: Lucas Magdiel



Em A Noite dos Mortos-Vivos, acompanhamos os irmãos Johnny e Bárbara indo visitar o túmulo do pai, em um cemitério bem distante de onde moravam. Como não conheciam bem o lugar, Johnny acaba se perdendo e eles só chegam lá ao anoitecer, quando o local está deserto. Irritado por ter perdido o dia todo em uma visita que não queria fazer, Johnny começa a assustar Bárbara, falando que os mortos saíram do túmulo para pegá-la. No meio da brincadeira aparece uma pessoa caminhando e eles pensam se tratar do zelador, porém, ao se aproximar ele ataca Bárbara, sufocando-a e rasgando suas roupas. Numa tentativa de livrar a irmã do agressor, Johnny vai para cima dele e para o horror de Bárbara, seu irmão acaba sendo morto e devorado.


Sem ter a menor ideia do que está acontecendo e aterrorizada, ela consegue fugir e se esconder em uma casa aparentemente abandonada. É só quando Ben aparece por lá que Bárbara descobre que outros ataques como o que ela enfrentou estão ocorrendo e que as autoridades ainda não têm uma explicação para o que tem causado esse fenômeno. Agora eles precisam sobreviver com os poucos recursos de que dispõem e torcer para que sejam resgatados. 


Em A Volta dos Mortos-Vivos, 10 anos se passaram desde aquela fatídica noite. Os mortos já não voltam mais à vida, porém algumas pessoas, por precaução, enfiam uma estaca no cérebro dos falecidos, já que esse se mostrou ser o único método eficaz de conter um zumbi. E em uma noite, sem nenhuma explicação ou causa aparente, assim como da primeira vez que aconteceu, os mortos que não tiveram seu cérebro perfurado retornam à vida e as pessoas novamente se vêem diante de seus piores pesadelos, enquanto lutam pela sobrevivência. 
O filme A Noite dos Mortos-Vivos é considerado um clássico das histórias de zumbis e precursor para muitas das séries, livros e filmes que acompanhamos hoje em dia. E apesar disso, eu nunca tinha assistido. Como eu já tinha comprado esse livro há um tempinho e quase sempre as histórias dos livros me envolvem mais do que dos filmes, resolvi ler antes de assistir. Porém, fiquei bem decepcionada.

O livro é a romantização do filme, mas eu sentia como se estivesse lendo basicamente uma transcrição do mesmo, quase como um roteiro. Achei a narrativa do John Russo muito "mecânica", como se ele tivesse assistindo ao filme e te falando o que estava acontecendo. Não consegui me envolver com o que estava sendo contado e achei que os acontecimentos eram descritos de uma forma muito rápida e sem emoção. Não dava tempo nem de ficar tenso antes e nem de se apegar muito depois de já ter acontecido determinado fato, porque logo ele já partia para o próximo, mesmo quando se tratava das mortes dos personagens. 

Sei que a história se passa em um cenário de sobrevivência e é bem difícil parar um tempo para sofrer a morte de uma pessoa, mas acho que para o leitor isso deveria ter um impacto maior ou causar um mínimo de comoção para ficar mais interessante e eu dei um total de zero f*cks para as mortes desse livro. Provavelmente o que contribuiu para isso foi o fato de quase todos personagens serem chatíssimos e unidimensionais, não consegui me apegar a nenhum. A participação feminina é bem pobre também. No primeiro livro, Bárbara pode ser facilmente confundida com um móvel da sala e no segundo, as mulheres basicamente são objetos dos homens, seja de seu abuso, seja de sua proteção. Outra coisa que me incomodou foram algumas descrições da morte de mulheres e como os zumbis pareciam preferir certas partes do corpo, tendo uma conotação um tanto sexual e meio bizarra...achei bem desnecessário.

"Com um lampejo de lascívia nos olhos, ele mordeu a carne macia de seu pescoço e demorou-se ali. Depois suas mãos grosseiras desceram e arrancaram a blusa de seu corpo em um único movimento brutal. O morto-vivo inclinou a cabeça e cravou os dentes nos seios firmes da garota (...) Quando a criatura levantou a cabeça, rasgou um de seus mamilos. Mais determinado que antes, arrancou o resto da roupa da vítima e saboreou a carne macia e suculenta de suas coxas e de sua virilha até que as tivesse mastigado por completo."


O autor também é extremamente repetitivo, principalmente ao se referir aos zumbis. Perdi as contas de quantas vezes ele escreveu "zumbis canibais/comedores de carne humana". Acho que depois da décima vez, qualquer um era plenamente capaz de saber que eles comiam carne humana, mesmo se o leitor nunca tivesse ouvido falar de zumbis na vida. Mas o que realmente me deixou meio inconformada e confirmou as duas estrelas que eu pensava em dar na avaliação foi a repetição de trechos inteiros do primeiro livro no segundo. Várias páginas continham a cópia das transmissões televisivas que foram feitas em A Noite dos Mortos-Vivos para alertar a população sobre o perigo. Apesar de eu ter achado isso chato, porque tinha acabado de ler, considerei até compreensível para situar os leitores cujo primeiro contato com a história fosse esse, apesar de achar que o autor poderia ter feito de outra forma. Mas em um determinado capítulo em que está acontecendo uma situação semelhante ao passado, tem um Ctrl+C Ctrl+V descarado. Quase duas páginas iguaizinhas, palavra por palavra. 

Apesar dos pesares (e dessa vez foram muitos), a leitura foi proveitosa no sentido de conhecer os primórdios do universo dos mortos-vivos. Ver como tudo foi pensado lá atrás e como algumas coisas mudaram e outras permanecem as mesmas. E se tem uma lição que podemos tirar de histórias de zumbis (e as apocalípticas no geral) é que sempre o maior perigo está nos próprios humanos. 

As edições da Darkside dispensam comentários, mas essa tá muito linda mesmo! acho que é uma das mais caprichadas que eu tenho. Tirei várias fotos dos detalhes, mas tive que deixar algumas de fora para o post não ficar tão enorme (já que meu desabafo a respeito da leitura já ficou).