Lido: O Conto da Aia


O Conto da Aia é um dos livros mais assustadores que já li e não se trata de uma história de terror. Pelo menos não no sentido da palavra com que estamos acostumados...algo sobrenatural, com espíritos ou demônios. Apesar de se tratar de uma ficção, não parece ser uma realidade tão difícil de acontecer. 

Devido a substâncias tóxicas e poluição, a taxa de natalidade de bebês saudáveis estava muito baixa e usando o medo do terrorismo dos norte-americanos, um grupo fundamentalista toma o poder e instaura um governo autoritário que muda radicalmente a sociedade, principalmente (ou seria unicamente?) para as mulheres.

"Quem sabe, sua própria carne pode estar poluída, suja como uma praia onde houve um derramamento de petróleo, morte certa para os pássaros marítimos e bebês ainda por nascer. Talvez um abutre morresse se comesse você. Talvez você ilumine na escuridão, como um relógio de pulso de antigamente. "

Na República de Gilead, os homens poderosos, participantes e criadores do golpe, passam a ser chamados de Comandantes e quando suas esposas não podem ter filhos, têm direito a uma Aia, mulheres cuja liberdade é tirada e passam a ter um único propósito na vida: gerarem um filho para esse casal. Uma vez a cada mês é realizada a Cerimônia, quando o Comandante tenta engravidar a Aia, enquanto a mesma está deitada entre as pernas de sua mulher. 

"E ela lhe disse: Eis aqui a minha serva, Bilha;
Entra nela para que tenha filhos sobre os meus joelhos,
e eu, assim, receba filhos por ela.
 
            - Gênesis, 30:1-3"


Inúmeras leis são criadas tirando todos os direitos das mulheres, mesmo das esposas dos Comandantes. Elas devem servir apenas aos propósitos domésticos, sendo até mesmo a leitura um crime, punível com a amputação de uma das mãos. 

"Eu quase engasgo de espanto: ele disse uma palavra proibida. Estéril. Isso é uma coisa que não existe mais, um homem estéril não existe, não oficialmente. Existem apenas mulheres que são fecundas e mulheres que são estéreis, essa é a lei."

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Meu primeiro contato com O Conto da Aia foi com o seriado e como fiquei extremamente angustiada durante todos os episódios e principalmente no final, fui em busca do livro para ver se descobriria o desfecho antes da próxima temporada.

Apesar de apresentarem algumas pequenas diferenças, a história da primeira temporada e do livro é basicamente a mesma, mesmo assim gostei muito da leitura e preferi ter assistido antes. Offred, a Aia narradora da história, vai apresentando o que está acontecendo lentamente, intercalando com suas memórias do passado e acho que já ter uma representação visual de Gilead na minha cabeça ajudou bastante. 

A série talvez seja um pouco mais impactante, mas o livro não deixa de ser um soco no estômago também (ou vários). Ele foi escrito na década de 80, mas não podia ser mais pertinente ao que estamos vivendo no momento: pessoas com ideias extremistas, retrógradas e machistas ganhando popularidade e até mesmo o governo de um país.

"Confraternizar significa comportar-se como um irmão. Luke me disse isso. Ele me disse que não existia palavra correspondente que significasse comportar-se como uma irmã. Teria que ser consororizar, disse ele. Do latim."

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