Nem tanto, nem tão pouco
Tenho uma relação complicada com a internet há muitos anos — e isso desde bem antes do “detox digital” viralizar (meio irônico, não é?). Já em 2016, escrevi sobre o assunto no blog, tentando entender como equilibrar minha vida online e offline.
Eu já tentei tantas abordagens diferentes, que perdi a conta. Já usei bloqueadores de aplicativos e de sites, launchers para transformar meu celular em uma espécie dumb phone e por aí vai. As únicas coisas que não tentei foram ter um dumb phone (já que não é vendido por aqui) ou usar um celular antigo - não tenho como abrir mão de alguns aplicativos no meu dia a dia, como banco, trabalho, mensagens.
Recentemente li dois livros sobre o assunto: Minimalismo Digital, do Cal Newport e Reclaim Your Mind, do Jay Vidyarthi. O primeiro tem uma abordagem um pouco mais radical e parecida com o que eu vinha tentando: cortar todas as tecnologias opcionais da sua vida e depois voltar apenas com o que faz sentido para você, com um uso controlado.
A Triagem da Tecnologia Minimalista (Minimalismo Digital)Para permitir que uma tecnologia opcional volte à sua vida no final da faxina digital, ela deve:1. Servir a algo que você valorize profundamente (oferecer algum benefício, em si, não é suficiente).2. Ser a melhor maneira de usar a tecnologia para atender a esse valor (se não for, substitua-a por algo melhor).3. Ter um papel em sua vida restrito a um procedimento operacional padrão que especifique quando e como usá-la.
Depois de muito tentar e fracassar, percebi que esse método não funciona para mim. Eu não uso o Instagram ou o TikTok, por exemplo, porque eles me servem a algo que valorizo profundamente. Nem sigo tantas pessoas por lá e na grande maioria das vezes uso para me distrair dos meus pensamentos ou de algum outro desconforto que eu quero evitar, rolando o feed infinitamente e vendo a vida de influencers (para me comparar e ficar pior ainda) e coisas aleatórias.
E foi aí que entendi: preciso reaprender a sentir desconforto e lidar com momentos de tédio e solidão.
Não estou dizendo que as grandes empresas responsáveis pelas redes sociais e essas novas tecnologias não tenham culpa. Acredito que elas têm, e muito. Fizeram e fazem de tudo para roubar nossa atenção e nos fazer passar o máximo de tempo online. Por conta delas, desaprendi a ter momentos do dia que não são preenchidos com nada. Mas também preciso assumir a minha responsabilidade de lidar com meus impulsos e com as decisões que eu tomo sobre como usar o meu tempo. Enquanto isso não acontecer, vou continuar burlando as restrições dos aplicativos de bloqueio ou reinstalando redes sociais que excluí.
“Também pode ser fácil começar a criticar, reclamar e apontar o dedo. Eu com certeza já culpei bastante as grandes corporações, me martirizei pelo consumo excessivo e fiz com que as pessoas ao meu redor se sentissem culpadas. A raiva e a frustração podem ser justificadas, mas não são um caminho construtivo para seguirmos em nossas vidas pessoais.” - Trecho traduzido do livro Reclaim Your Mind
Esse segundo livro me fez perceber que é quase impossível nos isolarmos das tecnologias no mundo que vivemos. Às vezes, fantasio com a possibilidade de não ter mais um smartphone e viver em um lugar tranquilo e afastado da sociedade. Mas essa não é a minha realidade e dificilmente será.
Eu com certeza não conseguiria viver sem tecnologia. Na verdade, nem acho que quero. Só tenho esses pensamentos quando me sinto sobrecarregada com os milhares de estímulos da internet. Por isso agora estou tentando uma abordagem mais equilibrada, tentando entender os motivos de buscar as distrações.
E quando eu quero mesmo usar algum aplicativo, tento fazer uma pausa antes e definir minha intenção com aquele uso, para não me perder e ficar infinitamente por lá. Ainda é muito difícil para mim e muitas vezes não funciona, mas acredito que com um pouco de treino, vou conseguir.
Também não posso ver só o lado ruim da internet, dos smartphones e da tecnologia no geral. É graças a eles que fiz algumas amizades e consigo manter contato com pessoas que estão distantes. Sem falar nos jogos de videogame que eu adoro ou aplicativos que são muito úteis para mim, como agenda, tarefas, mapas, etc. E o que seria de mim sem o Youtube que já me ensinou a fazer tantas coisas ou me distraiu em momentos difíceis?
Quero continuar usando as redes sociais o mínimo possível, porque realmente nem gosto tanto delas. Mas também preciso aprender a não ser tão dura comigo mesma quando eu não conseguir. E não enxergar mais a internet/apps como algo ruim que eu tenho que controlar, mas simplesmente como ferramentas que eu tenho a autonomia para escolher ou não se quero usar.
Tem dias que eu consigo, outros não. Tem dias que nem tenho cabeça para tentar colocar algum limite ou pensar antes de agir. Mas está tudo bem. São tentativas e aprendizados na minha jornada de me conhecer melhor e buscar uma vida com mais presença e consciência.
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