Resenha: O Jogo do Anjo



Número de Páginas: 410
Editora: Suma de Letras
Idioma: Português
Autor: Carlos Ruiz Zafón
Tradução: Eliana Aguiar

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O Jogo do Anjo é o segundo volume da trilogia (em breve quadrilogia) O Cemitério dos Livros Esquecidos, apesar de ser ambientado antes do primeiro, A Sombra do Vento

Nele acompanhamos a história de David Martín, um jovem jornalista aspirante a escritor. Sua mãe o abandonou muito cedo e o pai, atormentado pelos horrores da guerra em que foi combatente, encontrava conforto na bebida. Como seu pai tinha dificuldades de conseguir trabalho, David teve uma infância muito pobre, mas juntava todos os trocados que conseguia para comprar livros na livraria Sempere e Filhos. Seu gosto para a leitura era duramente recriminado pelo pai, muitas vezes fisicamente. 



Após presenciar o misterioso assassinato de seu pai, David fica sozinho e na miséria, até que Pedro Vidal, estrela do jornal La Voz de La Industria, fica sabendo de sua história e consegue um emprego para ele no local. Com o destaque que foi ganhando no jornal e a predileção do chefe, criou muitas inimizades que levaram a sua demissão e a um contrato para escrever uma série de livros comerciais, rentáveis, mas que o deixavam frustrado como escritor e esgotado. 

Aos 28 anos, David está vivendo sozinho em um casarão que todos dizem ser amaldiçoado, apaixonado por uma mulher que não se sente livre para corresponder ao seu amor e gravemente doente. Então surge em sua vida o misterioso Andreas Corelli, que se identifica como um editor francês fã de seus trabalhos. Corelli propõe a ele que lhe escreva um livro em troca de muito dinheiro. Porém, não é um livro qualquer e há muita coisa por detrás desse aparente acordo comercial.
Nesse livro me apaixonei novamente pela escrita de Zafón, depois de ter alguns "problemas" com ela em A Sombra do Vento. O livro é grandinho, mas a sensação ao percorrer suas páginas foi tão gostosa que mal vi o tempo passar. Acho que Marina sempre será meu queridinho e preferido do autor, mas esse chegou bem perto. 

Zafón te transporta de uma maneira natural e envolvente para os cenários em que as histórias se passam. Percorri as ruas de Barcelona junto com David e me senti enclausurada no casarão que ele habitava. 

"Barcelona inteira aparecia a meus pés e comecei a acreditar que, quando abrisse minhas novas janelas, ao anoitecer as ruas sussurrariam a meu ouvido histórias e segredos, para que os eternizasse no papel, espalhando para quem quisesse ouvir. (...) Eu tinha meu sinistro torreão erguido sobre as ruas mais antigas e tenebrosas da cidade, rodeado pelas emanações e trevas daquela necrópole a quem os poetas e os assassinos deram o nome de "Rosa de Fogo". "

Li esse livro para o mês do Halloween do blog, porque tinha ouvido falar que ele era meio assustador. Porém, apesar de um quê meio sobrenatural no mistério da história, o que é característico do autor, não fiquei com medo em nenhum momento. Gostei muito da trama e de como ela ia ficando cada vez mais tensa e sombria e depois de um certo tempo simplesmente não conseguia mais largar o livro. 

Apesar da história ser muito boa, o destaque desse livro, para mim, ficou por conta dos personagens. 
Alguns foram melhor desenvolvidos que outros, mas achei quase todos muito interessantes e importantes para o desenrolar dos acontecimentos. Disputando o lugar de preferido no meu coração ficaram Isabella, David e Sempere pai. Acho que David só perdeu por conta do amor dele por Cristina, que não achei muito convincente e que foi a única coisa que me incomodou na leitura. Além da própria Cristina, com quem também não consegui simpatizar muito. 

Achei a relação de David e Isabella muito incrível e uma das amizades mais bonitas que já vi. Dei boas risadas com todo o sarcasmo e a ironia em suas conversas, mas também me emocionei com o carinho sincero que tinham um pelo outro, mesmo com a dificuldade que David teve de admitir isso. E Sempere pai é um dos idosos mais fofos do mundo (na verdade não tenho certeza se ele era muito velhinho, mas era a impressão que eu tinha), queria poder visitar sua livraria e conversar com ele sobre a magia dos livros. 

Os diálogos entre David e Corelli acerca da religião e de suas implicações também foram um ponto alto para mim. Gostei dos questionamentos que foram desenvolvidos, que me fizeram refletir. 

" - Tudo é um conto, Martín. O que cremos, o que conhecemos, o que recordamos e até o que sonhamos. Tudo é um conto, uma narração, uma sequência de acontecimentos e personagens que comunicam um conteúdo emocional. Um ato de fé é um ato de aceitação, aceitação de uma história que nos foi contada. Só aceitamos como verdadeiro aquilo que pode ser narrado. "

O final do livro não foi totalmente conclusivo, mas gostei mesmo assim. Não é daquele tipo aberto que você precisa imaginar tudo que aconteceu, mas nem todas as respostas são entregues na sua mão também. Um pouco fica a cargo da sua interpretação da história. E para encerrar só me resta dizer que recomendo muito a leitura! <3

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