Resenha: Os Invernos da Ilha


Número de Páginas: 462
Autor: Rodrigo Duarte Garcia
Editora: Record
Idioma: Português

Sinopse: Skoob
Avaliação:

Livro cedido em parceria com o Grupo Editorial Record
Em seu romance de estreia, Rodrigo narra a história de Florian Links, um homem de quem temos poucas informações no início do livro, além do nome e idade. Sabemos apenas que ele está fugindo de um acontecimento de seu passado e por isso resolveu investigar sua possível vocação para atividades espirituais no Mosteiro da Santa Cruz na Ilha Sant'Anna Afuera, onde reside seu amigo de infância que agora segue a vida religiosa, dom Fernando

No mosteiro ele conhece um historiador e antropólogo francês conhecido como "Professor", Philippe Rosseau. Logo de cara há um estranhamento entre os dois, que vai perdurar ao longo da história. Rosseau está na ilha para coletar informações para um trabalho de pós-doutorado e enquanto isso está fazendo a tradução do diário do corsário holandês Oliver van Noort. O corsário era conhecido por saquear tudo que encontrava pela frente e durante a sua passagem pela ilha, matou muitos nativos e o Padre Miguel de la Vega, agora considerado um santo. 

Florian é encarregado de dar aulas na pequena escola da ilha e após uma delas, conhece Cecília von Lockenhaus, uma atraente e misteriosa médica por quem se interessa instantaneamente. Seu avô era obcecado pela história de Oliver van Noort, tendo comprado seu diário por acaso em um antiquário e levando para ilha. 

Ali estava parada uma mulher bonita, que devia ter por volta de trinta anos, a pele morena lisa e os olhos muito verdes, muito frios. Ela cruzava os braços e, se de um lado mostrava o seu evidente enfastio, de outro era apenas isso que mostrava. Uma espécie de transparência controlada, demarcando todos os limites e bastante, bastante distância. 

Mesmo com as suas diferenças, o Professor compartilha com Florian suas traduções e descobertas a respeito do diário. A partir daí a narrativa do livro é alternada entre o tempo presente e os relatos do corsário. As informações e especialmente um poema contido nele, levam a crer que há um valioso tesouro escondido na ilha. Então Florian, Rosseau e Cecília se vêem envolvidos em uma verdadeira caça a um tesouro pirata. 

Esse livro não foi exatamente o que eu estava esperando. Talvez se não tivesse ouvido/lido nada a respeito da história, minha opinião seria diferente, mas como já comecei com a promessa de ser uma mistura de filmes como Os Goonies e Indiana Jones, acabei me decepcionando um pouco. A escrita do autor é muito rica e há passagens excelentes e que te fazem pensar, mas em determinados momentos eu não queria mais essa "filosofia" toda, queria apenas embarcar em uma aventura envolvendo um tesouro pirata sem ter que ler descrições de um parágrafo a respeito do vento ou de alguma divagação com pouco sentido para mim. 

Eu gostei bastante dos relatos de Oliver van Noort e foram as minhas partes preferidas do livro, onde eu realmente senti a aventura que estava esperando. Mas grande parte da história no presente é lenta e arrastada e foca em acontecimentos um tanto repetitivos de Florian na ilha e seus dilemas que parecem nunca ser resolvidos.

Comecei e terminei o livro não gostando do protagonista e acredito que isso influenciou bastante minha opinião sobre o livro. Ele é descrito na sinopse como um "herói atormentado", mas para mim ele é uma pessoa extremamente egoísta que não consegue enxergar nada além das próprias vontades e tristezas. Estou longe de gostar de personagens perfeitos, que sejam bem resolvidos em absolutamente tudo e totalmente altruístas. Mas as atitudes de Florian me incomodaram demais. As motivações para tudo que ele decide fazer são bem fracas e ele prefere creditá-las a "Engrenagem" que controlaria o curso da vida de todas as pessoas. Além disso, com exceção da culpa que o atormenta por todo livro, ele parece não assumir a responsabilidade por nada. E tem uma atitude dele no final da história que me deu tanta raiva que acabou com todas as minhas dúvidas a respeito de gostar ou não dele. 

As repetições me incomodaram bastante ao longo do livro também. O Professor Rosseau ria deixando os caninos à mostra, Cecília fazia uma careta charmosa mostrando a língua o tempo todo e Florian corava praticamente sempre que ela se dirigia a ele. Pode ser chatice da minha parte? Provavelmente. Mas repetições desse tipo vão me cansando durante a leitura. Também me cansei com o duelo de egos infinito entre o Professor e Florian, principalmente quando envolvia chamar a atenção de Cecília. E não achei muito feliz a forma com que Florian se referia a ela. Por várias vezes ele falou em salvá-la de Rosseau ou tirá-la das mãos dele, como se ela não tivesse vontade própria ou capacidade para escolher com quem ela gostaria de se relacionar, mesmo sendo uma mulher adulta. E todas as descrições dela são extremamente idealizadas...mesmo no meio da floresta, sem comer direito, sem dormir e tomar banho, ela continua perfeita, como se saída de um SPA, o que seria humanamente impossível. 

A história do livro é boa e acho que a trama como um todo foi muito bem pensada, principalmente considerando ser o livro de estreia do autor. Porém, para mim, há muitas coisas que não funcionaram muito bem e que acabaram me impedindo de me envolver de verdade com o que estava sendo contado. Mas como cada pessoa tem uma experiência diferente com um livro e a avaliação dele no Skoob está bem alta (4.5), recomendo que leiam, caso a sinopse interesse, para que possam tirar as próprias conclusões :)
As folhas do livro são amarelas e no início há uma mapa da ilha, bem legal de acompanhar durante a história. E eu achei a arte da capa e da contracapa linda, foi a primeira coisa que me chamou a atenção!

O resgate da memória às vezes também funciona como crianças brincando de telefone sem fio: a história moldada e mudada a cada versão, depois transmitida e impulsionada à frente. Seria estúpido negar o risco de renúncias e perdas pelo caminho. Mas vale a tentativa, vale a travessia. Porque, enfim, até o último suspiro, tudo é travessia. 

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