Resenha: Holy Cow


Uma aventura irreverente e itinerante com muita personalidade, e uma heroína quadrúpede que você não vai esquecer tão cedo.
Elsie Bovary é uma vaca muito feliz em sua bovinidade. Até o dia que resolve sair sorrateiramente do pasto e se vê atraída pela casa da fazenda. Através da janela, observa a família do fazendeiro reunida em volta de um Deus Caixa luminoso – e o que o Deus Caixa revela sobre algo chamado “fazenda industrial” deixa Elsie e tudo o que ela sabia sobre seu mundo de pernas para o ar. A única saída? Fugir para um mundo melhor e mais seguro. Assim, um grupo para lá de heterogêneo é formado: Elsie; Shalom, um porco rabugento que acaba de se converter ao judaísmo; e Tom, um peru tranquilão que não sabe voar, mas que com o bico consegue usar um iPhone como ninguém. Munidos de passaportes falsos e disfarçados de seres humanos, eles fogem da fazenda e é aí que a aventura deles alça voo – literalmente. Elsie é uma narradora marrenta e espirituosa; Tom dá conselhos psiquiátricos com um sotaque alemão um tanto forçado; e Shalom, sem querer, acaba unindo israelenses e palestinos. As criaturas carismáticas de David Duchovny indicam o caminho para um entendimento e uma aceitação mútuos dos quais esse planeta tanto precisa.

Número de páginas: 208
Autor: David Duchovny
Editora: Record
Idioma: português
Cortesia do Grupo Editorial Record


A primeira vez que vi a sinopse desse livro achei que a convivência com ETs durantes anos não tinha feito muito bem ao Mulder (David Duchovny). Mas então eu o recebi de cortesia do Grupo Editorial Record, minha curiosidade falou mais alto e resolvi dar uma chance a leitura. E gente, que livro bom!

Ele é uma fábula animal que nos conta a história de Elsie, uma vaca leiteira que tem uma vida feliz e tranquila na fazenda com sua melhor amiga, Mallory. Seus dias passam entre ordenhas, conversas, passeios no pasto e não há nada que ela deseje além disso. A única coisa que preocupa sua cabecinha é o abandono de sua mãe, a quem ela amava muito e não entende porque sumiu sem se despedir. Porém, isso é algo que acontece com todas as mães vacas da fazenda: um dia elas somem e os filhos acabam aprendendo a aceitar. 

Uma noite, ela e sua amiga planejam uma pequena fuga para se encontrarem com os touros e Elsie acaba indo até a casa da fazenda, onde vê as pessoas reunidas na sala e hipnotizadas pelo "Deus Caixa". Essa caixa luminosa mostra diversas imagens e sons e através dela, Elsie descobre a verdade por trás do desaparecimento de sua mãe e das outras vacas. Sem chão, ela resolve fugir para a Índia, já que lá as vacas são sagradas.
Enquanto elabora seu plano de fuga, Elsie acaba ganhando dois companheiros inusitados (e não convidados) para acompanhá-la nessa jornada: um porco recém convertido ao judaísmo, Shalom, e o peru Tom. Shalom quer ir para Israel, pois lá os porcos são considerados impuros e não há risco dele virar comida. Já Tom, fugindo do Dia de Ação de Graças, pretende ir para a Turquia, que considera ser o país do seu povo. A partir daí acompanhamos esse trio com suas ideias loucas e mirabolantes para alcançar seu objetivo, que envolvem desde utilizar um smartphone para reservar passagens de avião até mesmo pilotar um avião!  

Toda a história é contada por Elsie, que está escrevendo um livro sobre essa sua aventura. Há trechos em que ela narra os acontecimentos e outros em que ela dialoga com o leitor ou conta sobre suas conversas com a editora do livro, que está sempre tentando conduzir a história para um lado mais comercial e lucrativo.

Minha editora também disse que minha história deveria ser escrita "mais como roteiro que como livro porque é aí que está o grande público - não mais nos livros, e sim nos filmes". Então é isso que venho tentando fazer sempre que possível. E ela diz que filmes de animação são os maiores, e que os animais costumam ser os astros das animações. Aí pergunto: "Como posso escrever como se fosse um filme quando se trata de uma história real?" E ela literalmente pula da cadeira e diz: "Mina de ouro!


O livro é recheado de humor (nem sei quantas vezes eu ri ao longo da leitura) e referências de todo o tipo, principalmente música e cinema, até mesmo nos títulos dos capítulos. Seguindo os conselhos de sua editora, alguns trechos foram escritos em forma de roteiro e quase todos os capítulos são curtinhos e fluídos, dá para ler praticamento o livro todo em uma sentada só. Apesar de que eu li bem aos pouquinhos, porque estava me divertindo bastante e não queria que acabasse rápido. 

Mas nem só de humor é feito o livro. Ele traz diversas reflexões e críticas ao comportamento humano, em aspectos como maus-tratos com animais criados para o consumo, desperdício de alimento, egocentrismo, preconceito e intolerância religiosa. As críticas não são tão profundamente desenvolvidas, mas não acho que isso as invalida de maneira alguma. O mundo visto pelos olhos de um animal às vezes pode fazer muito mais sentido.

E fiquei me perguntando se eu seria o último animal na Terra a se dar conta de que os humanos não só nos comem, mas também jogam muitos de nós fora sem nem nos comer. Nos jogam fora como um lixo desprezível. Se vou ser morta para virar comida, pelo menos me coma e me cague e me deixe reingressar no ciclo da natureza. Não me mate sem motivo. E foi aí que vi - um hambúrguer pela metade. E foi minha vez de perder a cabeça.

Apesar de ser uma fábula com animais falantes, acredito ser uma história capaz de agradar a todas as idades. Na verdade acho que adultos gostarão ainda mais do que o público mais jovem. Recomendo que você abra a sua mente e venha se aventurar junto com a Elsie! Você não irá se arrepender :)

A Edição

A primeira coisa que me chamou a atenção no livro foi a edição, que está muito bonitinha e caprichada.

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